quarta-feira, agosto 12, 2009

A Odisseia Africana (cont.)

...a continuação, conforme prometido pela Teresa, rematado pelo descritivo postal escrito pelo Hugo, um must:

Continuando a actualizacao da cronica africana, nunca sera demais referir o episodio do dia ne etapa entre Bla e Koutiala. Na verdade, foi das ideias mais infelizes que tive nesta viagem que fica como registo do momento alto do dia.
Ja tinhamos pedalado alguns kms depois de sair de Bla quando eu, depois destes dias todos a pedalar com a saia vestida por cima dos calcoes, resolvi tirar porque comecava, com o calor; a ter a sensacao de cozer a vapor dentro do efeito de estufa que a saia faz. Nao esquecer que como povo maioritariamente muculmano, as mulheres nao mostram mais do que o tornozelo. No entanto, resolvi tirar a saia. A sensacao de liberdade e alivio foi imensa. Sentia me renovada de tao arejada que andava. No entanto, essa sensacao passou rapidamente. Os olhares incredulos da rapaziada, junto com os comentarios indecifraveis, mas perfeitamente compreensiveis atraves dessa inequivoca forma de comunicar que e a expressao corporal, comecei a sentir me qual Bo Dereck, na famosa cena do filme Bolero, a cavalgar nua pela praia. O Hugo comecou tambem a resmungar que desde que eu tinha despdo a saia e comecado a exibir os meus calcoes de lycrociclista, nunca mais ninguem respondeu aos seus cumprimentos. Vesti a saia mesmo a tempo de entrar em Mpessoba, onde o policia de rigor inquestionavel no cumprimento do dever, nos mandou parar por causa das vinhetas da bicicleta. Nem quero imaginar o que teriq acontecido se nao tivesse vestido a saia...

Em Koutiala, sendo Domingo, dia de mercado, todas as pessoas descem a cidade. Troca se, vende se, negoceia se. Uma grande confusao. Nao tirei muitas fotos porque aqui muitas vezes coloca se a questao de as pessoas nao quererem ser fotografadas. Fica a memoria.
No dia seguinte, apanhamos o bus de Koutiala (Mali) para Bobo Dioulasso (Burkina Faso). Tomamos essa decisao pporque nao teriamos sitios para poder dormir pelo caminho e porque as zonas de fronteira sao sempre propicias a encontros pouco amistosos. Para tras ficava o Mali, de onde fica a recordacao forte de um povo acolhedor, que nada mais faz senao sobreviver. Para tras fica tambem a mitica Timbuctu, Meca do Sahara, cidade no limite do deserto, conhecida pelas aventuras ligadas aos tuaregs e as caravanas do deserto, nas suas rotas comerciais. Infelizmente, apesar dos anos passarem pela cidade, ao que parece a sua misticidade de cidade inacessivel continua impune como uma verdade actualmente real. O governo de Bamako, dadas as revoltas independentistas dos tuaregs, a decadencia do povo nomada que a mantinha, e do rigor a que esta votada a mesma pela sua proximidade do deserto, pouco investe em acessibilidades e por conseguinte em algo mais que seja, condenado a ao isolamento. De facto, a ida a Timbuctu continua rodeada de misticismo e de grandes doses de aventura, ja que, seguir de barco pelo Niger pode constituir atrasos incalculaveis, bem como o acesso via terrestre uma incognita. Para ajudar, a ida sem enquadramento de guias pode resultar em mas memorias para quem se aventura; ja que a ida e vinda se faz pela unica estrada existente completamente isoldada de tudo e todos.

Aventuras, aventuras, podemos tambem considerar a ida de bus desde Koutiala ate Bobo. Chegamos com uma anetecedencia de cerca de 2 horqs a estacao das camionetas para ter a certeza que nao o perderiamos. Pouco depois, fomos informados que embarcariamos imediatamente e numa companhia que nada tinha a ver com a que tinhamos coimprado o bilhete. As burras e Bobs foram icados para cima do autocarro. Nos, pressionamos e conseguimos entrar no veiculo. Ficamos no corredor. Eu sentada na frente do carro, no terceiro bidon, e o Hugo em pe no fundo do carro.
Na frente, com o inicio da viagem comecou tambem o desfilar do cancioneiro (todo) malinense, cada musica angariando vozes de coro, a vez. A difundir a cultura musical malinense estava uma coluna gigante do tamanho de um frigo bar, ao lado da manete das mudancas. Fui fazendo um esforco por ver a paisagem por entre a grinalda de flores e bananas que cobria o para brisas, o coiote (amigo do Bip Bip) e uma metade de coco com o que julgo frases do corao gravadas. Para os lados, ficava impossivel ver fosse o que fosse ja que os autocolantes da Madonna do tempo do "Like e virgin" o impediam. Avancei entretanto para o primeiro bidon e finalmente para um lugar sentado a medida que foram saindo passageiros.
La atras, ja sentado num banco, o Hugo fazia as delicias do mulherio num intercambio intercultural de fazer inveja a qualquer viajante que se preze. Uma miuda de 8 anos que la estava inclusive disse que casava com ele e tinha planos de me deixar na fronteira. Um homem branco, de pelos nos bracos da sorte, logo, ha que precaver o futuro.
O trajecto seguiu as formalidades de saida do Mali, de entrada no Burkina, de fazer os vistos, de revistar as malas por 2 vezes, o que somando deu 5 paragens.
Estamos portanto, ja em solo burkinabe, "terra dos homens integros", por nao ter nunca sucumbido as tentativas de "conquista" ou aculturacao por parte de outros povos. Onde a religiao oficial e a animista, que resulta das crencas populares, apesar tambem acolher uma grande parte de muculmanos e catolicos, onde a esperanca media de vida para os homens e de 47 anos e onde tivemos , para ja um bom acolhimento.
Vistamos o bairro velho da cidade, antiga capital e foi um autentico "boiao de cultura", ja que tivemos a companhia de um simpactico guia; formula unica para entrar nessa zona da cidade.
Amanha, se nao chover muito estaremos nos pedais para conquistar Banfora.

Ate la, saudacoes dos babous

Teresa e Hugo

Hugo said:
Confirmo e acrescento algumas informaçoes, em primeiro, para terem uma ideia do que se passava da parte traseira do autocarro... para começar; da minha Teresa so via o cucuruto e era qd a camioneta balançava para o lado certo. La, na parte de tras, comecei de pe (ou em pe), passei para um bidon de é( l vazio no meio do autocarro e, a medida q me fui enturmendo, assim q saiu o primeiro compagnons de route, passei para os sentados no banco!

Ao meu lado uma senhora muito jovem, burkinabe, dava de mamar e mudava a fralda a filhota bebe q começou a berrar assim q me sentei ao lado dela. Deve ter sido a primeira vez q viu um BABOU! Do outro lado, uma familia de mulheres malinesas começou a conversa comigo, de onde era, o q fazia, para onde ia, de onde vinha, quem era a minha mulher... o ambiente era muito pesado, dificil de respirar em especial qd começou a chover e tiveram de fechar as entrradas de ar - no tecto da carripana, claro!- e um cheiro intenso a frango percorria ocasionalmente o bus. Esta malta leva umas malgas de metal, ao genero pia de lavar a car, cheia com frango assado, arroz branco e molho (muito molho) para todo o lado. E o conceito take-away... e depois, no final; os ossos vao para o chao do autocarro e limpam-se as maos, ou a cabeça do senhor da frente, ou aos cortinados... e a escolha!

LINDO e INESQUECIVEL!

2 Comments:

At 22:32, Blogger Ricardo Dinis said...

Teresa, se malinesas estão tão interessadas nos pelos do Hugo, troca-o por um camelo que dá jeito para as etapas de montanha.

Boas Sorte para o resto da viagem.

 
At 23:37, Blogger RuiRuim said...

Fabuloso o vosso texto! Senti-me um boadinho aí também.. fartei-me de rir! Continuem a escrever!

 

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