Vacas Velhas na 12ª Travessia de Portugal
Caros amigos, o Vuck Roger lançou este desafio, e até já falou com o Sr. António Malvar (Ciclonatur). A ideia é aproveitar o feriado do 10 de Junho (Quinta-feira) para nos juntarmos ao pessoal que vem (e vai) atravessar o País de lés a lés. Deixo-vos aqui os comentários às 4 etapas que estamos a planear fazer este ano, curtam largo...
Etapa5 - Alfaiates/Termas de Monfortinho
Caros amigos, A Travessia vai em frente descobrindo o “Portugal das traseiras”. Não há fotografia, nem palavras que possam descrever o que se vê, e as emoções por nós vividas lá do alto da Serra da Malcata. Tudo o que a nossa vista alcança, e neste dia de céu azul alcança muito, não se vislumbra algo onde se denota a intervenção da mão do homem para além dos caminhos e corta-fogos que sulcam a densa vegetação da serra. São 30 kms de paisagem profundamente selvagem, rodeados por Natureza forte que nos toca bem dentro do nosso emocional. Longe das cidades, aqui “perdidos” neste recanto longínquo e esquecido do nosso Portugal, somos confrontados com a presença magnânima da Mãe Natureza que nos faz reduzir, a nós comuns mortais, à nossa verdadeira dimensão como seres vivos que somos e que com tanto outros seres vivos que nos rodeiam, partilhamos este planeta, que por isso não é só nosso e por isso não temos o direito de o alterar sacrificando o bem estar desses outros seres vivos. Longe das cidades onde largámos os nossos empregos, qual expressão ignóbil eles têm perante esta tão imponente presença divina. Aqui “stress” não passa de uma palavra que já significou algo que já não conseguimos bem compreender o que é, depois destes 5 dias a pedalar de sol a sol vivendo o dia a dia com a Natureza, gozando-a mas respeitando-a. A Travessia é isto mesmo, viver, viver, viver..... Viver com as águias e os milhafres que nos observam lá do alto, os rouxinóis chilreando nos salgueirais junto aos rios e ribeiras, o som relaxante do vento a afagar as searas, viver com os lagartos que rastejam para um esconderijo quando aparecemos subitamente no caminho, viver com as inúmeras flores selvagens de uma miríade de cores que preenchem o nosso campo de visão, qual quadro vivo e belo donde bebemos as forças para viver. Não há fotografia....... A 5ª etapa ALFAIATES - MONFORTINHO de 86 kms é para nós Organização que somos apaixonados pelo selvagem, distante e isolado, a Etapa. Fóios, na entrada norte da Serra da Malcata ao Km 15 é último contacto com a civilização, a seguir são 70 kms sem passar em aldeias, casas ou estradas asfaltadas, da Malcata para o sopé da Serra do Ramiro, daqui inflectindo para Este de encontro ao Rio Erges que seguimos durante vários Kms até às Termas de Monfortinho. Foi mais um dia de calor intenso e que por isso mesmo decidimos fazer as partidas de Alfaiates bem cedo. Tomamos o pequeno-almoço às 5:30 da madrugada e com os primeiros raios de Sol aí estava o Nível 1 a arrancar. Os outros grupos seguiram cerca de 1 hora mais tarde pelas 7:30. Rolou-se bem mas primeiras horas da manhã pela fresquinha e foi já bem dentro da Malcata que o calor começou a fazer-se sentir mas hoje sem nunca molestar demasiado. Os 30 participantes nesta etapa ficaram deslumbrados com a Malcata, excepção feita para o casal de holandeses que se tinham juntado a nós ontem e que por via de falta de técnica e terem bicicletas inadequadas (sem suspensão) aqueles pisos não resistiram à dureza dos caminhos da Malcata e tiveram de desistir completamente exaustos e desconsolados por não poderem continuar até ao fim. Foram recolhidos pela Organização ao Km 45. Aqui que é o único ponto deste troço de 70 kms onde tocamos uma estrada de alcatrão, tínhamos a Wendy à nossa espera com a carrinha recheada de Ice teas e fruta bem fresca que fez as delícias de todos que estavam longe de imaginar que poderiam beber algo fresco por aquelas bandas. Logo a seguir tivemos o primeiro banho do dia numa piscina natural feita por um rio que tínhamos que atravessar. A água do rio corria morna e ali permanecemos dentro de água durante muito tempo, foi um momento de grande prazer ao podermos refrescar os nossos corpos quentes e ensolarados. Mas aproximava-se a hora limite combinada para chegar ao portão da reserva de veados que queríamos atravessar e como tínhamos combinado com o guarda até às 15:00 e porque já estávamos atrasados resolvemos montar uma forma de nunca parar nos cruzamentos sacrificando uma pessoa em cada cruzamento que ficava fazendo a ligação até ao último do grupo. Desta forma 20 kms depois estávamos junto ao portão da reserva pelas 14:40 e conseguimos o nosso objectivo. Atravessamos em seguida toda a reserva para norte de encontro ao rio Erges, uma descida de 6 kms para a qual tive o cuidado de avisar os participantes dizendo-lhe que nunca por todas as vezes que passamos por ali em anteriores eventos conseguimos passar sem incidentes. Este ano, mais uma vez, tivemos 2 quedas, uma delas causando um golpe na mão de um dos do meu grupo que mais tarde teve de ser suturado. O rio Erges foi atravessado por 2 vezes, e numa delas onde a água corria quente e baixa sobre os seixos do leito, deitamo-nos dentro da água que mal nos cobria o corpo e ali estivemos refrescando e comendo dentro de água por algum tempo. Mais à frente e já junto ao final da etapa atravessamos o Erges pela última vez mas desta feita com água pela cintura, mas sempre quente, decerto que a temperatura da água do rio deveria rondar os 30/32 graus. O Hotel Astória foi o local de pernoita e jantar neste longo dia de BTT em que chegamos às 17:00, o outro grupo nível 2 às 18:30 e o grupo nível 1 pelas 20:30 depois de 14 horas de BTT com muitos furos, rebentamento de pneus e outras paragens lúdicas que este grupo sempre arranja forma de fazer. Para o final também houve quem se não sentisse bem acusando o esforço de um dia cheio de BTT de subidas e descidas, de Sol e muito suor. A noite está quente a deixar antever um dia de amanhã em nada diferente em termos de temperatura.
Etapa6 - Termas de Monfortinho/Ladoeiro
O dia da 6ª etapa MONFORTINHO - LADOEIRO numa extensão de 79 Kms amanheceu quente e os ciclistas saíram do hotel logo para um single track ao longo do Erges para logo ao Km 5 começar a inflectir para Oeste para a abordagem a
Monsanto passando pela ponte romana sobre o Rio Ponsul e subindo à aldeia mais portuguesa por uma calçada muito inclinada e bem técnica. Em Monsanto reunimos todos os 3 grupos e esvaziamos o café de bebidas frescas enquanto admirávamos as vistas espectaculares sobre as Serras da Gardunha e Estrela para Oeste, Malcata e Penha Garcia para Norte e a grande albufeira da barragem de Idanha para Sul. Fomos ainda ver as curiosas construções das casas que utilizam as enormes rochas graníticas como paredes ou tectos.
Descer de Monsanto por outra calçada, a de S. Pedro Vira Corça, é uma sensação inigualável, as suspensões das nossas bicicletas vão ao rubro e o gozo de descer por maus caminhos toma outras dimensões quando se começa a constatar que travar só é possível com as rodas no chão. Mais à frente e a enfiamo-nos por um single track com passagens sobre rochas com degraus que fez as delícias dos mais afoitos. A passagem pela aldeia histórica de Idanha-a-Velha onde visitamos as escavações arqueológicas em curso, foi a oportunidade para conversarmos sobre os povos que antes de nós habitaram estes lugares.
Deixámos a Egitânia atravessando a ponte romana, subindo na direcção de Alcafozes mais propriamente o Santuário da Srº do Loureto a padroeira dos aviadores, e lá paramos para um snack junto ao pedestal do avião. A seguir continuamos por um caminho rolante no meio de um eucaliptal e alcançámos a capela da Sra. do Almortão onde em 5 minutos, por já estarmos atrasados entramos no café aí existente e bebemos uns Ice Teas e comemos umas meloas. Daqui até ao Hotel IdanhaNatura onde ficamos esta noite foi muito rápido rolando por caminhos a fazerem lembrar o Alentejo, ao lado de pequenos açudes sobrevoados com os voos preguiçosos das cegonhas brancas, e dos grandes espaços envolventes com as searas já douradas a ondular ao vento.
Já perto da chegada o grupo estava bastante alegre resplandecendo a alegria de ter passado um dia a pedalar por locais tão emblemáticos que encerram tanta beleza natural e tão esquecidos.
Etapa7 - Ladoeiro/Castelo de Vide
É fim-de-semana e como é hábito muita gente se junta a nós para fazer estes 2 dias a pedalar connosco no Portugal das traseiras.
Nesta 7ª etapa LADOEIRO - CASTELO DE VIDE vamos beijar o Tejo, esse grande rio que divide o país em dois. Um Norte de gentes hospitaleiras que constroem casas com paredes de pedras e as aldeias serranas se confundem com a paisagem, e um Sul que como o nome indica fica para Além do Tejo, terras de pessoas que vivem da terra, de casario branco e ruas imaculadamente limpas e das longas planícies douradas pelo sol estival.
Dividimos esta etapa em duas, uma até Vila Velha de Rodão e outra até ao final.
Foram 68 Kms muito rolantes na parte inicial acompanhando o rio Ponsul até dele nos despedirmos na povoação de Lentiscais. Aqui paramos para uma vez mais esgotarmos as bebidas frescas, as meloas, os pães, etc. do café local.
Os participantes dos níveis 1 e 2 - não resistiram às águas do rio Ponsul e ali mesmo por debaixo da ponte foram ao banho.
Antes de Alfrivida subimos à Sra.do Socorro e rolamos no planalto sobre o Tejo até Monte Fidalgo. Aqui o Fábio (o brasileiro que está connosco nesta travessia) resolveu ir investigar uma festa que estava a acontecer na povoação e foi de imediato convidado a petiscar do veado grelhado, e bem regado, que estavam a servir a todos na aldeia. Em seguida deslumbramo-nos com as vistas sobre a Barragem de Cedille e todo o Tejo internacional para montante.
Depois de Perais foi a subida de um corta-fogo até ao monte das Areias Brancas e daí até V.V. de Rodão sobre a planície que alcunhamos da plantação de pedras, tantos que são os seixos que inundam tudo. Como não há vento não estamos a ser incomodados com o cheiro que por vezes vem dos lados da fábrica da Portucel.
Quase metade da Travessia realizada, já cumprimos quase 7 etapas e o nosso GPS totaliza cerca de 500 kms nesta Travessia. Já vimos metade do país esquecido e em todos os participantes existe uma forte vontade de continuar e continuar e continuar.......
Todos os dias há novas caras na Travessia e outras que partem contagiados desta febre de puro BTT e é esta constante rotação de pessoas que faz cada dia ser um novo dia e um outro passeio.
A Travessia vai descendo a Lusitânia por caminhos de cabras à descoberta das suas gentes mais nobres, das suas paisagens mais recônditas, da sua identidade mais natural na alma do seu interior.
Depois de Vila Velha de Rodão entramos no Alentejo ao atravessar o rio que divide o País ao meio, o Tejo, e quão visível ainda é por estes locais essa divisão. Em tempos há muito idos, o Tejo manteve afastados as gentes das duas margens e isso contribuiu para as diferenças culturais e étnicas que se denotam no aquém e além Tejo. É curioso mas logo na primeira aldeia que tocámos depois de passar o rio, Salavessa, começamos a ouvir o mais puro sotaque alentejano e estávamos a escassos 10km da Beira Baixa cujos locais falam português sem qualquer sotaque. As casas brancas orladas a cores vivas com as suas grandes chaminés tronco-prismáticas começaram logo a dominar a paisagem nas aldeias e os sobreirais e olivais passaram a ser os predominantes. Em Póvoa e Meadas a 20km do fim esperava-nos um petisco de chouriço assado, febras, queijo da região e muitas bebidas frescas, para não falar no delicioso arroz doce ou na melhor sericaia que já alguma vez provamos. Aqui também o piso dos nossos caminhos se altera e os granitos passam de novo a fazer parte da paisagem, ao longe para a esquerda ainda se avista Castelo Branco e em frente de nós temos já também ao longe o penedo de Marvão que se ergue imponente no horizonte. Castelo de Vide a nossa meta também já se avista na encosta do cerro que culmina com a silhueta bem distinta do castelo. Antes porém passamos pelo parque megalítico de Coureleiros com as suas antas em perfeito e incompreensível abandono. A subida para o castelo em Castelo de Vide faz-se por uma calçada medieval algo íngreme na parte final o que representou o maior desafio da etapa, técnica e física, esta foi no fundo um cheirinho do que teremos no menu de amanhã.
Em Castelo de Vide ficamos no Hotel Sol e Serra que oferece uma boa qualidade de instalações e serviço.
Etapa8 - Castelo de Vide/Campo Maior
CASTELO DE VIDE - CAMPO MAIOR com uma extensão de 81 Kms, a Travessia já passou o seu ponto intermédio em termos de Kms.
Atravessando o Alto Alentejo junto à fronteira com Espanha sobre a Serra de S. Mamede, esta etapa muito variada de pisos e paisagens fez as delícias da maioria. Com um céu sem nuvens e uma temperatura fresca, os agora apenas 14 participantes divididos em 2 grupos gozaram BTT puro e duro numa etapa de dificuldade média/alta. Há sempre muitas histórias em todas as travessias e lembramo-nos da a infeliz queda do nosso amigo Luís Relvas, que se juntou a nós em Marvão, e que não viu um buraco no trilho tapado com ervas e deu um mortal por cima da bicicleta aterrando de lado, ferindo bastante a coxa direita. O tempo fresco contribuiu para um bom ritmo de andamento, foi um dia de BTT em cheio.
A nova barragem do Abrilongo obrigou-nos a improvisar um novo percurso rodeando a barragem com passagem pelas antigas minas e junto a estas foi possível admirar os inúmeros ninhos de cegonhas habilmente construídos em cima de árvores secas.
A espectacularidade das vistas, a subida e a descida das calçadas de Castelo de Vide (3 kms de pedras irregulares para pôr ao rubro as suspensões), a descida empinada para Alegrete, a visita das pinturas rupestres da Lapa dos Gaivões e os largos horizontes avistando Badajoz sobre as searas salpicadas de papoilas e malmequeres e outras flores de todas as cores nos campos a Norte de Campo Maior, preencheram um dia de BTT puro e simples onde o convívio mas também o pedalar em silêncio escutando a natureza em redor complementaram a nossa alegria de viajar pedalando no “Portugal das traseiras”.
No Hotel Santa Beatriz, somos sempre bem recebidos, já tínhamos uma mangueira pronta para lavar as bicicletas.
Amanhã será um longo dia outrora nas primeiras travessias era o dia de descanso só com 35 km de etapa e uma piscina para relaxar.
Na etapa de hoje o nosso Garmin diz que:
Extensão = 81 kms Tempo a pedalar = 5h 25’ Média = 14,9 km/h Vel. Máx = 59,5 km/h Desnível acumulado de subidas = 1748 m Desnível acumulado de descidas = 1525 m Totalizador da Travessia = 613 Kms
Com Portugal agora espalhando-se nestas paisagens da planície alentejana, vivemos dias diferentes nos quais o relógio mais fiel para nós é o Sol e a agenda é totalmente preenchida com uma única reunião com a Natureza que nos envolve.
Um abraço para todos vós que adorariam estar aqui connosco.
Antonio Malvar
5 Comments:
Fonix... só de ler fiquei cansado!!! Nesta altura, se tudo correr como previsto, estarei nas Maldivas a preparar-me psicologicamente para as 24 horas. Para o treino fisico, vou alugar um pedal boat em regime de permanência (!), para me manter em forma eheheheheh
Já agora, digam lá a esse cavalheiro da Ciclonatur que o GPS que ele me vendeu vinha avariado - tipo esborratado - mas como já passou 1 ano e nunca me apeteceu lá ir devolve-lo, olha, quando forem fazer a Travessia e ficarem todos amiguinhos, levem-no e peçam-lhe para ele (...) mo trocar por outro!!!
Os "Rogers" vão lá estar!
"Quem anda à chuva molha-se!"
Tanto fds fora de casa....
ai ai ai
É por isso que os "Rogers" vão os 2...
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